6.7.19
Atlântico 28 anos
Atlântico
– 28 anos – Um Violino no Telhado - 6 de julho 2019
(Keane – “Somewhere only we
know)
O programa Atlântico faz
amanhã 28 anos.
Sem as grandes retrospetivas habituais, o violino dedica-se hoje ao porquê e ao sentido destas coisas.
Tal como tudo na vida, o
Atlântico já esteve para acabar diversas vezes, fatores externos, e o mais dos
episódios aqui internos, do programa. O habitual. Cansaço, falta de feedback
forte, vontade de coisas novas, desilusões. Houve, no entanto, sempre alguma
estrelinha que nos fez continuar.
E nos nossos dias, em que o
virtual e o desenraizado grassa, acaba por fazer mais sentido continuarmos a
existir. Até pode ser que não esteja lá mais ninguém. Enquanto fator de
humanização , para falarmos das coisas reais. A virtualidade de comunicação é
uma ferramenta ou um instrumento, nunca um fim. Já dizia o saudoso Fernando
Calado, em meados da década de noventa – essa década louca e boa - que ainda
não tinham inventado computadores ou aparelhos que fizessem sozinhos bons
programas ou que tornassem as pessoas criativas ... e arriscava mesmo dizer que
nunca seriam inventados... tanta razão tinha e tem o Fernando. E também noutra
coisa, fundamental. A proximidade. Duvidem sempre de uma proximidade de
gabinete ou de escritório, que nos leve a uma verdade de sempre, também ela: É
muito difícil reciclar o plástico, e a fonte tem de ser sempre boa, porque a
cosmética não faz de facto, só por si, maravilhas. Seja no som ou em todo o
tipo e em todo o sentido do conceito de imagem.
Gostávamos de estar mais na
rua, mais perto das pessoas, a disponibilidade e a dispersão geográfica da
equipa do programa é grande, não facilita, bem como a loucura da vida moderna a
que somos obrigados pela sociedade, pelo politicamente correto, pelas hierarquias
e no final de tudo, por nós mesmos.
Hoje no Violino, um lugar só
nosso, pelos Keane. Símbolo de uma grande mudança de vida e de renovação do
programa, em 2005 – altura da música - uma das mais marcantes, apesar de elas
serem constantes. Para continuarmos novos, apesar da idade.
Enquanto existir uma pessoa a
fazer o seu treino de corrida no passeio das Romeirinhas e a ouvir o Atlântico
no telemóvel, no final da tarde de sábado; enquanto o nosso pessoal aqui de
Santiago, Sines e Santo André ou qualquer terra nos for a ouvir no carro à
entrada das compras no Jumbo de Setúbal, ou a caminho da Ovibeja ou a tratar dos
animais na herdade ou à saída da praia e na esplanada a comer um petisco no
final do dia. Ou enquanto do outro lado do oceano onde fomos buscar nome existir alguém que nos conhece ou não a
ouvir-nos e a tornar-se parte do coletivo; Enquanto despertarmos um sorriso que
seja em alguém, com a nossa forma própria de comunicar, mostrar, apontar ou
agraciar, valerá sempre a pena.
O Atlântico são todos os que
o fizeram e fazem, agora ou no futuro, mas sobretudo quem alguma vez o escutou,
escuta ou escutará.
Os afetos vão muito para lá
de um programa de rádio tecnicamente irrepreensível. Por isso somos
privilegiados e mantemos forças para lá do que o padrão consideraria razoável. Lá
está, estando onde outros não estão. E com todo o gosto. O prazer é de nós
todos, pois não somos números, somos pessoas. Obrigado pela escuta a todos.